quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Recomeço: cinemas perdem espaço para streaming, mas sobrevivem à pandemia

Luca Ribeiro

Fonte: cinemascope.com.br

Em: 29/09.21


Os números do segundo final de semana do filme Viúva Negra nos cinemas dos Estados Unidos foram mais um motivo de incômodo para a rede exibidora do país. Após uma excelente estreia nos cinemas, arrecadando 80 milhões de dólares nas bilheterias americanas em um lançamento simultâneo com o serviço de streaming da Disney+, o aguardado longa-metragem sofreu uma significativa queda de 67%  no fim de semana seguinte, a maior já registrada para um filme do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU). Não demorou muito, e a Associação Nacional de Proprietários de Cinema (NATO), uma das principais representante das empresas exibidoras nos EUA, emitiu seu recado: “Isso demonstra que um lançamento exclusivo nos cinemas significa mais receita para todas as partes interessadas em cada ciclo da vida do filme.” Para a NATO, a culpa do desempenho morno de Viúva Negra nos cinemas dos EUA era da Disney+. 

Scarlett Johansson em cena de Viúva Negra: desempenho do filme nos cinemas dos EUA tem gerado discussão sobre o atual formato de distribuição de conteúdos
Imagem: Cinemascope




Episódios como esse ilustram o quão imprevisíveis são os cenários para os cinemas não apenas na América do Norte, mas pelo mundo. Há pelo menos um ano e três meses, desde o início da pandemia do covid-19, os amados assentos em frente às telonas estão vazios ou sendo pouco frequentados Brasil afora, vítimas de um inesperado vírus e de uma compreensível resistência de boa parte do público em voltar a frequentar tais ambientes enquanto a vacinação segue a passos lentos e desiguais entre países. Desde março de 2020, salas fecharam, exibidores faliram, funcionários perderam empregos, lançamentos foram constantemente adiados e a inevitável pergunta sobre a sobrevivência de toda uma indústria tornou-se pauta frequente: os cinemas voltarão a ser como antes?

É óbvio que não se deve associar um possível agravamento ou alongamento da crise do setor cinematográfico diante do atual cenário de um vagaroso arrefecimento da pandemia ao receio que muitos amantes da sétima arte ainda têm em voltar aos cinemas.  No Brasil, por exemplo, com pouco mais de 20% da população totalmente vacinada, a situação ainda requer muitos cuidados e exige um contínuo respeito às medidas sanitárias recomendadas pelas autoridades de saúde.  Mas também é curioso pontuar como desde o início da flexibilização das regras de isolamento, os cinemas tornaram-se o “patinho feio” da história.

TENET, MULAN E A NOVA REVOLUÇÃO DO STREAMING
Como substituir a experiência de ver um filme em uma sala de cinema? O ritual da compra da pipoca, a seleção do assento favorito, a chegada com antecedência para assistir aos trailers, a imersão em um sala escura por cerca de 2 horas, sem a distração de celulares, notificações e conversas paralelas? É impossível. Mesmo quando a produção vista não é das melhores, o processo de sair de casa e ir até uma poltrona de frente para uma tela gigante é o que move e gera cinéfilos ao redor do mundo há muitas décadas, e não há serviço de streaming ou super TVs que possam tomar o lugar de uma vivência como essa. Mas diante da maior pandemia dos últimos 100 anos, escolhas antes impensáveis tiveram de ser tomadas para que rodas pudessem continuar girando e para que, dentre produtores, distribuidores e exibidores, nem todos saíssem perdendo tanto. Porque perder, todos perderam.


Christopher Nolan (à direita) dirige John David Washington em cena de Tenet: aguardado longa-metragem foi lançado nos cinemas quando EUA ainda passava por grave fase da pandemia
Imagem: Cinemascope

Após o início dos adiamentos das diversas grandes produções previstas para o primeiro semestre de 2020, como 007 – Sem Tempo Para Morrer, Um Lugar Silencioso – Parte II, Viúva Negra, e tantos outros de diferentes estúdios, foi a Disney quem inaugurou uma nova era do consumo de conteúdo audiovisual para amenizar os desastrosos efeitos da incansável pandemia. Mais precisamente no dia 4 de agosto do ano passado, o CEO da bilionária empresa, Bob Chapek, anunciou que o lançamento do aguardado live-action de Mulan , orçado em cerca de 200 milhões de dólares, aconteceria diretamente no serviço de  streaming da Disney+ com um preço a parte da assinatura. A decisão gerou revolta e foi mais um forte baque para os exibidores, que há meses já sofriam os efeitos de salas completamente fechadas e contavam com o filme para um sólido retorno de bilheteria. Para piorar, como o aplicativo da Disney+ ainda não estava disponível em diversos países, dentre eles o Brasil, muitos espectadores tiveram de esperar longos meses para poder assistir ao filme (por meios oficiais, claro).

Mas apesar de polêmica e relativamente inesperada por boa parte do mercado, a decisão da Disney também foi inevitavelmente compreensível. Apenas alguns dias antes, no fim de julho de 2020, a Warner Bros havia divulgado uma elaborada estratégia de lançamento para Tenet, o épico sci-fi de Christopher Nolan que era considerado por muitos como a “salvação” dos cinemas para a exorbitante crise causada pela pandemia. A produção, que já vinha sofrendo adiamentos recorrentes, enfim estreou no fim de agosto em cinemas de países espalhados pelo globo, e apenas no início de setembro nos EUA. Mas com grande partes das salas ainda fechadas e altíssimos números de mortes e contaminados sendo diariamente registrados, a estreia americana do filme teve um desempenho aquém do esperado e as incertezas aumentaram.

Não que a bilheteria total de Tenet tenha sido um fracasso, longe disso: foram 363 milhões de dólares arrecadados globalmente, segundo o Box Office Mojo , com enorme sucesso na China e Coréia do Sul. Mas quando comparada aos resultados dos prévios lançamentos do badalado diretor, como Dunkirk ($ 527 milhões), Interestelar ($ 701 milhões) e A Origem ($ 836 milhões), a diferença é latente.  Teria a Warner Bros queimado a largada lançando o filme nos cinemas em meio à pandemia? Como estipular um bom retorno de bilheteria em um cenário como esse? E como divulgar estes números sem parecer um fracasso?

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